sexta-feira, 26 de julho de 2013

Antónia Conceição Reboredo

“Esqueci-me de dizer isto”,por Antónia Conceição Reboredo


Antónia Conceição Reboredo, do Pombal, foi uma das pessoas entrevistadas para o projecto “Gentes de Alfândega”, que faz parte do Arquivo Histórico do Município de Alfândega da Fé. Dois dias depois de ser entrevistada, ao regressarmos à aldeia de Pombal, dona Antónia chamou-nos e entregou-nos uma folha escrita pelo seu punho dizendo-nos: “Esqueci-me de dizer isto”.
É esse texto que hoje reproduzimos.


Agora vou falar do tempo de antes. A gente vivia com muita dificuldade, tinha de fazer muita coisa , que trabalhar muito no campo para se poder viver. A gente criava os frangos, iam-se vender a Alfândega às casas ricas e havia compradores pelas ruas.Os ovos, a gente só comia algum no dia de Carnaval ou de Páscoa, ou nas segadas, ou nas malhadas ou em dias de festa, ou quando se ia à Senhora da Assunção , à Senhora do Amparo a Mirandela , ao Santo Antão da Barca ou Santo Ambrósio ou outras mais. Era raro comer-se um frango, eram só para as pessoas ricas.
Esqueci-me de lhe dizer que nas adegas  também guardávamos as batatas para se gastarem todo ano, quem as colhia.
 Também me esqueci de lhe dizer que não tínhamos  água em casa, tínhamos de a ir buscar bastante longe, nos cântaros de lata ou de barro, não tínhamos fogão, tínhamos de fazer lume na lareira para fazer o comer, não tínhamos frigorífico para guardar as comidas, não tínhamos micro-ondas para aquecer as comidas, não tínhamos televisão para ver o que se passava no mundo e passarmos o tempo mais alegre e não nos custar a passar o tempo. Não tínhamos electricidade em casa nem nas ruas . Em casa, as coisas que eu já nomeei, por exemplo a televisão, o frigorífico e o micro-ondas e os rádios, não podiam trabalhar, porque não tínhamos electricidade para as ligar na ficha. Agora estamos em crise, dizem na televisão, mas agora a gente é criada com mais mimos e com mais coisas boas . Aquelas pessoas que agora as podem ter, dantes não tinham dinheiro para as comprar. 
Antónia Conceição Reboredo

sábado, 6 de julho de 2013