segunda-feira, 14 de setembro de 2009

VISTA GERAIS DO POMBAL

1 comentário:

  1. A aldeia em pensamento;
    a que distância
    as casas mais próximas;
    a angustiada voz
    desperta;
    a rapariguinha,
    o prado adiante;
    pedrinhas da calçada
    a desinquietarem infância.
    -
    Vou a um outro dia,
    com pernas para a frescura.
    De deambular por fora,
    longe do meu canto,
    esqueci, há muito,
    a humilhação poética.
    Diluí-me em abraço,
    no povo, mais do que na letra.
    Evado-me de idear
    quanto me nega.
    Vou esquecer-me
    de emendar a fantasia;
    seguir ao rés da terra
    p’lo tisnado dia.
    -
    Desenrolando vou
    a acção obscura:
    O amanhã trará
    outra cor.
    -
    Cidade, teu cais, luzes, ruas, jardins,
    largos onde descansam olhos,
    claridade nítida para pequenos nadas,
    tais como fumo, água, café,
    que intervalam caminhadas,
    pesos, lutas e surpresas.
    Para lutar há não só praças,
    escolas, recintos, fábricas,
    casas cheias com memória,
    mas uma vontade grande de ver teu corpo limpo,
    crianças pisando-te despreocupadas,
    operários erguendo não já o que lhes pese.
    -
    Plantas dos pés assentes
    sobre este pedaço de terra,
    paisagem de anseio pacífico
    doutra esfera,
    os olhos desenham-me
    a variegada imagem sem guerra
    que num O se encerra.
    Chão, carpete ou azulejo?
    Chão dos dias vedados
    a trajectos ínvios de desejo.
    Estou inteiro e nu, suspenso da escrita possível,
    voo que a morte erguerá pra lá de mim.
    Aqui medito a condição humana e a estatura:
    Terra dura.
    Um som através esboça a ouvidos o cenário em papel:
    Desperto sonhar a música a me revelar.
    Deixo-vos recado:
    Nação estrangeira, pacífico bocado aqui vivi.
    Vou a outra margem.
    Não são horas de variáveis devaneios.
    Só uivos na noite que nos cobre.
    Memória sobre.
    -
    Emérito mui digno Monsieur Albeniz
    foi empurrado por um bandido, à Paris.
    Vi o filme das suas mãos, pombas que voavam:
    Paz, irmãos! E os insultos gelavam.
    Falava com as mãos, pombas que voavam:
    Solidariedade, irmãos! Quase o matavam.
    Era um colóquio importante para Monsieur Albeniz,
    que persistia no uso da palavra, à Paris.
    Logo inquietado, e interrompido,
    o certo porém é que Monsieur Albeniz
    falou, e bem, de paz e bem, à Paris.
    -
    Alados, nas antemanhãs,
    lembram a paz, a calamidade, a dor ou a redenção?
    Lêem o livro interminável.
    Umas mil vezes lêem, e relêem, para lá, o escrito.
    Porque lhes apraz estão de pé.
    Cada criança ferem com essa força que nasce coração.

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